A história da Imprensa brasileira vive nesta terça-feira, 31 de agosto, mais um dia triste: circula hoje, depois de uma existência de 119 anos, a última edição impressa do Jornal do Brasil. A partir de amanhã, o JB terá apenas a versão na internet, recurso utilizado por seus administradores para tentar superar os problemas financeiros da empresa – as dívidas chegam a R$ 800 milhões.
O Jornal do Brasil é responsável por edições memoráveis da história da imprensa brasileira, principalmente no período da ditadura militar. Ficou famosa sua edição de 14 de dezembro de 1968, sobre o AI-5. Para burlar a censura imposta pelos militares, publicou na primeira página, uma fictícia previsão do tempo. "Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38º em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras." Na mesma edição, à direita, uma chamada para uma efeméride: "Ontem foi o Dia dos Cegos".
A crise financeira se agravou na década de 90 até que, em 2001, a família Nascimento Brito arrendou a marca JB para a Docasnet, empresa de Nelson Tanure. No ano passado, outra marca de jornal arrendada pelo empresário, a Gazeta Mercantil, também deixou de circular. Pedro Grossi, que presidia o jornal, foi contra a decisão de acabar com o jornal em papel. "Não posso avaliar nem fazer juízo sobre a opinião do dono. Ele acha que o tecnológico será mais lucrativo", lamentou. Segundo Grossi, o jornal estava com tiragem de 30 mil exemplares (desde 2008, o JB não era auditado pelo Instituto Verificador de Circulação, IVC).
Também ficou famosa a primeira página do dia seguinte ao golpe militar no Chile, em 1973. Para driblar a censura brasileira que proibia manchetes sobre episódio, o JB fez uma edição sem títulos garrafais, nem fotos. Na primeira página, com o lugar da manchete em branco, foi publicado um longo texto sobre a morte de Salvador Allende, emoldurada apenas pelo serviço de classificados.
‘Velório’ e festa em lançamento de livro sobre o JB
Os jornalistas estão convidados para participar do lançamento do livro “Memórias de um Secretário do Jornal do Brasil – Pautas e Fontes”, que se realizará hoje (31/8), com uma festa no anexo do restaurante Nova Capela, na Avenida Mem de Sá 98, Lapa, a partir das 18h.
O autor, Alfredo Herkenhoff, ficará no primeiro andar autografando o livro, que tem 436 páginas, enquanto no segundo andar estará rolando uma festa com música de primeira qualidade sob a batuta do DJ Janot, o jornalista Marcelo Janot. “Estou convidando amigos e colegas para participarem de um gurufim, que é um velório em que há música e canto em homenagem a um morto, no caso o JB”, brinca Alfredo.