Publicado pela Sophia
Editora, "O primeiro indígena universitário do Brasil — Dr. José Peixoto
Ypiranga dos Guaranys (1824-1873)" ganha formatos impresso, audiobook e
ebook
O primeiro indígena universitário do Brasil nasceu
no aldeamento de São Pedro de Cabo Frio em 1824, dois anos depois da
Independência do Brasil (1822), e tornou-se bacharel em direito pela
Universidade de São Paulo (USP), onde estudou com o escritor José de Alencar.
As informações estão contidas no livro "O primeiro indígena universitário do Brasil — Dr. José Peixoto Ypiranga
dos Guaranys (1824-1873)", que será lançado nos formatos impresso,
audiobook e ebook no próximo dia 25 (sábado), a partir das 18h, no Museu José
de Dome (Charitas), em Cabo Frio. O encontro contará com palestra dos autores
Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira e Marcelo Sant’Ana Lemos, com tradução em
libras, sendo transmitido ao vivo pelo Facebook e YouTube da Sophia
Editora. O projeto conta com patrocínio do Governo do Estado do Rio de
Janeiro, através do Edital Retomada Cultural RJ2, da Secretaria de Estado de
Cultura e Economia Criativa.

No texto de apresentação, Maria Regina Celestino
de Almeida, pesquisadora da UFF, observa que a instigante e complexa trajetória
de Ypiranga dos Guaranys é problematizada e muito bem contextualizada no Rio de
Janeiro pelos autores, que "abrem um leque de questões relevantes para
refletir sobre a presença e participação indígena na construção do Estado e da
nação brasileiros".
"Fundamentados em diferentes tipos de fontes,
desenvolvem um estudo complexo e inovador sobre este instigante e controvertido
personagem, sobre o qual se debruçam, buscando identificar as motivações
próprias que orientavam suas escolhas políticas e ideológicas. Abordam a
problemática da construção de imagens estereotipadas e preconceituosas sobre os
indígenas no século XIX, ao mesmo tempo que evidenciam seu protagonismo e a
complexidade de suas atuações e múltiplas estratégias, que só podem ser
compreendidas em contextos específicos e levando em conta suas intensas
interações entre si e com os não índios. Trata-se, sem dúvida, de uma
publicação relevante para nossa historiografia, que tem, entre outros, o mérito
de demonstrar a importância de se considerar a presença e a participação
indígena nos processos de formação do Estado nacional brasileiro", escreve
Maria Regina Celestino de Almeida.
Durante seus 49 anos de vida, Ypiranga dos
Guaranys foi proprietário de terras e de escravos, comerciante, advogado,
promotor público, vereador e inspetor escolar em diversas cidades. Ele, segundo
os pesquisadores, desde a infância visitava a corte e também acompanhava o pai,
Joaquim Rodrigues Peixoto, no comércio de cabotagem, que realizava na Baía de
Guanabara. Inclusive, foi Joaquim Rodrigues Peixoto o primeiro a pedir ao
estado financiamento para que indígenas pudessem cursar a faculdade – o que foi
negado.

“O que mais chama a atenção na história dele é
que, no fim do século XX e no início do século XXI, os indígenas foram galgando
não só a universidade no primeiro momento, mas no segundo momento foram fazendo
mestrado, virando até professores universitários. Esse protagonismo de Ypiranga
dos Guaranys é muito importante para jogarmos luz a um fato pouquíssimo
conhecido”, destaca Marcelo.
Entre as curiosidades que permeiam a pesquisa, o
leitor saberá, por exemplo, que a turma de Ypiranga dos Guaranys na
universidade era heterogênea, uma vez que tinha alunos de sete províncias
diferentes. Entre os colegas havia futuros juízes, ministros, escritores,
parlamentares, nobres do Império. Já o escritor José de Alencar se tornaria,
inclusive, padrinho de uma das filhas de Ypiranga dos Guaranys. No primeiro ano
do curso, os alunos fundaram Instituto Literário Acadêmico, responsável por
publicar a revista Ensaios Literários, na qual publicavam por meio de
pseudônimos, pois abdicavam da "glória". Ali, “rascunhavam” o
nascimento do romantismo brasileiro.
Para os pesquisadores, a importância do resgate da
história do primeiro indígena universitário do Brasil é de valor inestimável
para a história do Brasil e da Região dos Lagos.
“Com o trabalho, contribuímos para vencer uma
série de preconceitos que a sociedade brasileira tem ainda hoje sobre a
população indígena. Além disso, a trajetória dialoga profundamente com as
imagens representativas de um ideal de povo e nação que estavam sendo
elaboradas e cuja discussão atravessou o período do Império, mantendo-se viva”,
reflete Scaldaferri.

Sobre os
pesquisadores
Luiz Guilherme Scaldaferri Moreira - Doutor em
História pela UFF (2015). Mestre em História Social pela UFRJ (2010). Bacharel
e Licenciado em História pela UFRJ (2001). Professor das redes municipais de
ensino de Armação dos Búzios e Cabo Frio. Tem se dedicado a pesquisar questões
ligadas à temática da História Indígena, a História Militar e a popularização
da História da Região dos Lagos. Em 2010, publicou “Os índios na História da
Aldeia de São Pedro de Cabo Frio – séculos XVII-XIX”, em coautoria com Janderson
Bax Carneiro. Em 2018, juntamente com Rose Fernandes, publicou “Cabo Frio e a
Pesca da Baleia na Ponta dos Búzios (Séculos XVIII e XIX). Em 2020, em
coautoria com José Francisco de Moura, publicou “História de Cabo Frio – dos
sambaquieiros aos cabo-frienses)”. Em 2010 recebeu a menção honrosa no Concurso
de Monografia do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro, com sua dissertação de
Mestrado. É membro da Academia Cabofriense de Letras. Em 2021, escreveu o livro
infantil “História de Cabo Frio contada à minha filha”.
Marcelo Sant'Ana Lemos - Possui graduação em
Geografia (1986), mestrado em História (2004), ambos pela UERJ. Foi professor
do Colégio Pedro II (1993-2011), da rede pública estadual (1999-2006),
professor em cursos de pós-graduação na Universidade de Vassouras e na UFRJ.
Autor de livros sobre a história indígena fluminense e de crônicas. Organizador
de cursos sobre temática indígena para professores da rede pública estadual e
municipal e para o público em geral, também apresenta palestras e lives sobre
esses assuntos.